Venho aqui fazer a boa acção do dia. Não, não é avisar as pessoas do perigo que correm nas praias; é só para dizer que isto é falso. O típico spam que as pessoas insistem em partilhar, antes de confirmarem a sua veracidade.
O post que hoje vi a circular, tinha uma foto de uma caravela portuguesa, como a que se vê na imagem, e dizia o seguinte:
MUITO IMPORTANTE!!!
Fica a informação. Tenham cuidado.
Depois de dois meses de mau tempo a assolar a costa portuguesa, vejam o que está a chegar na rebentação a algumas das nossas praias, juntamente com minúsculas patas de caranguejo, algas e outros elementos, vejam o aspecto que têm.
Sabem o que é isso? É apenas uma modesta medusa azul extremamente tóxica.Se virem alguma não lhe toquem. Mesmo morta o seu tecido mole morde como uma serpente, e as marcas que deixa na pele são definitivas - tatuagens indesejáveis. A dôr é indescritível e se fôr uma criança a manuseá-las, pode morrer envenenada.
Estas criaturas vivem a milhares de quilómetros da nossa costa, portanto: o que é que estas fazem aqui? São medusas de água quente, da Austrália, Califórnia... Quando surgem nas praias, estas são fechadas ao público e consideradas mais perigosas que tubarões a deambular na área.
Meus amigos. O tempo está a melhorar e os passeios à beira-mar tornam-se apelativos à descontracção. No entanto, se virem criaturas como estas, limitem-se a olhar e sigam à vossa vida.
Indícios de que algo não bate certo com esta suposta notícia:
- Não ouvi nem vi falar disto em meio de comunicação social nenhum;
- Não me lembro de ter estado assim tão mau tempo nos últimos dois meses;
- Todo o relato parece extremamente exagerado, quase como um risco para a saúde pública, quando não houve nenhum aviso por parte de quaisquer autoridades a respeito do assunto.
Fazendo uma rápida pesquisa, cheguei às seguintes conclusões:
- Obtive MAIS DE 100 resultados com o mesmíssimo texto, ipsis verbis, em blogues, facebooks, transcrições de emails, e sei lá mais o quê. A parte mais cómica é que cada um dizia rigorosamente a mesma coisa para uma praia diferente. Curioso, não?
- Este copy-paste anda a circular há séculos, sendo o mais antigo que encontrei de MARÇO DE 2010. Vejam bem de quando é que são esses dois meses de mau tempo…
- O conteúdo também é um exagero pegado! Sim, é um animal potencialmente perigoso, se entrarmos em contacto com os seus tecidos, mas daí a dizer que são mais perigosas que tubarões… Basta não ser totó e não lhe ir fazer festinhas, que não nos acontece nada.
- A Caravela portuguesa existe em locais MUITO mais próximos de Portugal do que a Austrália, e como é um animal que anda à deriva pelas correntes, acaba por vir cá parar. A sua presença na nossa costa é relativamente normal; vi testemunhos de mergulhadores que dizem que sempre se lembram de as verem por cá.
Posto isto, I rest my case.
Sejam críticos com o que lêem. Sejam cépticos. Desmistifiquem, escrutinem as coisas. E não façam spam.
Bom fim-de-semana!
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quinta-feira, 28 de junho de 2012
Incompatibilidade entre Ciência e Religião
Partilho aqui uma opinião curiosa acerca do tema religião vs ciência, escrita por um estudante de teologia e astrónomo amador: http://astropt.org/blog/2012/05/23/big-bang-e-deus/
O comentário que faço a isto é o seguinte:
Era assim que eu pensava também, em tempos que já lá vão, quando era católica. Eu não via incompatibilidade nenhuma entre ciência e religião, porque para mim, ciência e religião dão respostas a questões diferentes (a ciência, explica o mundo físico; enquanto que a religião se prende com um lado espiritual, que eu achava que sentia, e era algo onde eu ia buscar "apoio" emocional, através da dita fé); e não havia como misturar as coisas. Para mim, enquanto pessoa religiosa, nunca houve qualquer choque entre evolução e criacionismo, por exemplo. A maior parte dos católicos já nem coloca essas questões sequer, e aceitam perfeitamente as teorias científicas. Eu, pessoalmente, não sentia a minha fé minimamente abalada pela ciência, pois eu achava que a ciência explicava aquilo que deus tinha criado (e que coisas complexas e belas ele criava!).
Só mais tarde compreendi que a maior incompatibilidade, a meu ver (fora para aquelas religiões que claramente pretendem explicar o mundo físico com deus(es)), nem se trata do choque de teorias, como evolução vs criacionismo. A maior incoerência prende-se com o princípio do qual partimos, com o nosso critério para aceitar algo. Hoje em dia, como estudante e admiradora de ciência, é-me completamente impossível aceitar deuses, não porque eles me apresentem explicações para o mundo físico contrárias às que a ciência defende, mas sim porque, se eu acredito no método científico, e se aceito que ele funciona, porque convivo com os seus frutos no dia-a-dia; e se, por outro lado, nenhum outro método nem crença me dá as provas palpáveis, nem os resultados práticos que o método científico me dá; então, naturalmente, eu desenvolvo uma postura céptica em relação a tudo o que me rodeia - aceito e acredito naquilo que é comprovável e reproduzível (não há outra forma de fazer ciência). Falei de mim como estudante de ciência, mas isto aplica-se a QUALQUER pessoa que viva nos dias de hoje, pois qualquer pessoa hoje em dia usufrui da ciência e isso, para mim, implica que toda a gente acredite nela - embora muitos não gostem de assumir esse facto.
Não me cabe na cabeça, portanto, como é que alguém que se diz crente na ciência, que usufrui dela (seja porque vai ao médico, ou porque vê televisão, ou porque usa telemóveis, carros, computadores, etc), e que aceita, consequentemente, os princípios do método científico (questionamento, experimentação, comprovação, etc), consegue continuar a acreditar em coisas para as quais não existe qualquer prova, qualquer demonstração. Esta é, para mim, a maior incompatibilidade entre religião e ciência.
O comentário que faço a isto é o seguinte:
Era assim que eu pensava também, em tempos que já lá vão, quando era católica. Eu não via incompatibilidade nenhuma entre ciência e religião, porque para mim, ciência e religião dão respostas a questões diferentes (a ciência, explica o mundo físico; enquanto que a religião se prende com um lado espiritual, que eu achava que sentia, e era algo onde eu ia buscar "apoio" emocional, através da dita fé); e não havia como misturar as coisas. Para mim, enquanto pessoa religiosa, nunca houve qualquer choque entre evolução e criacionismo, por exemplo. A maior parte dos católicos já nem coloca essas questões sequer, e aceitam perfeitamente as teorias científicas. Eu, pessoalmente, não sentia a minha fé minimamente abalada pela ciência, pois eu achava que a ciência explicava aquilo que deus tinha criado (e que coisas complexas e belas ele criava!).
Só mais tarde compreendi que a maior incompatibilidade, a meu ver (fora para aquelas religiões que claramente pretendem explicar o mundo físico com deus(es)), nem se trata do choque de teorias, como evolução vs criacionismo. A maior incoerência prende-se com o princípio do qual partimos, com o nosso critério para aceitar algo. Hoje em dia, como estudante e admiradora de ciência, é-me completamente impossível aceitar deuses, não porque eles me apresentem explicações para o mundo físico contrárias às que a ciência defende, mas sim porque, se eu acredito no método científico, e se aceito que ele funciona, porque convivo com os seus frutos no dia-a-dia; e se, por outro lado, nenhum outro método nem crença me dá as provas palpáveis, nem os resultados práticos que o método científico me dá; então, naturalmente, eu desenvolvo uma postura céptica em relação a tudo o que me rodeia - aceito e acredito naquilo que é comprovável e reproduzível (não há outra forma de fazer ciência). Falei de mim como estudante de ciência, mas isto aplica-se a QUALQUER pessoa que viva nos dias de hoje, pois qualquer pessoa hoje em dia usufrui da ciência e isso, para mim, implica que toda a gente acredite nela - embora muitos não gostem de assumir esse facto.
Não me cabe na cabeça, portanto, como é que alguém que se diz crente na ciência, que usufrui dela (seja porque vai ao médico, ou porque vê televisão, ou porque usa telemóveis, carros, computadores, etc), e que aceita, consequentemente, os princípios do método científico (questionamento, experimentação, comprovação, etc), consegue continuar a acreditar em coisas para as quais não existe qualquer prova, qualquer demonstração. Esta é, para mim, a maior incompatibilidade entre religião e ciência.
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