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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Respira



Não está fácil, não está fácil, não está mesmo, não está não. Vai em frente, falha, tenta outra vez, avança, cai, chora, volta atrás, levanta... LEVANTA-TE! Corre! Corre, corre, CORRE! E canso-me, e respiro descontroladamente, tentando acompanhar esta corrida frenética. Mais rápido - e é tudo negro - corre mais rápido! E a cada inspiração, respiro enxofre, amoníaco, pântanos pútridos, cadáveres pestilentos, dejectos fétidos e tudo que mais difícil me é de respirar. Corre, porque perdeste tempo a olhar para a paisagem - foi por isso que tropecei e caí. Corre, porque jamais chegarás lá nesse passo lento e relaxado. Corre, corre, porque, até mesmo correndo, a meta parece longe - então porque não corro eu mais depressa? Corre, corro, CORRE!, eu corro, EU CORRO!!




PÁRA!




Não aguento mais. Páro.
Os meus pulmões não parecem suficientes em número e volume para todo o ar de que preciso agora. O meu coração não cabe no meu peito, de tanto pulsar, e parece tentar sair dele. O meu cérebro não está suficientemente oxigenado. Faltam-me as forças. E eu respiro, respiro, respiro como se nunca tivesse tido o ar à minha disposição - este ar à minha disposição.

SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF

Este ar é diferente. É mais limpo, mais fresco... Demasiado fresco; é gelado!

SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF
SHH-HUFF

E corta-me a garganta com farpas de gelo.
E faz-me sentir uma tempestade polar ao redor das têmporas. Ou será dentro da cabeça? Parece até que parte do ar gelado que respiro vai directo para o cérebro!
Mas é gelado que sabe bem!

SSHHHHH-HUUUUFFFF

Respiro fundo.

SSSSHHHHHHHH-HHUUUUuuuuuuuuuufff...



sshhhh-huuuuufff
sshhhh-huuuuufff
sshhhh-huuuuufff
shh-huff...
shh-huff...
shh-huff...


Recupero os sentidos que, por pouco, não perdera por completo. Os meus pulmões não tentam mais sugar o ar que não podem guardar, nem ocupar o espaço que não têm. O meu coração parece voltar a considerar o meu peito um bom sítio para viver, e, calmamente, aconchega-se entre os meus pulmões. Eu respiro normalmente agora; sinto um odor que agradavelmente carrega o ar e olho, finalmente, em meu redor.





Dou por mim numa estrada não muito larga, de terra batida e clara, ladeada por campos de girassóis da minha altura, de ambos os lados, e sem fim à vista em qualquer direcção que os meus olhos busquem. Só estrada e girassóis.
O meu espanto é enorme. A obsessão de correr em direcção ao meu destino era tão forte que me cegou. Não olhei para as margens da estrada, nem vi o que é que me levara ali; não soube apreciar o caminho.
Começo finalmente a raciocinar e pesa-me o cansaço - apercebo-me de que não durmo hà três dias. Meu deus, terei eu corrido durante todo este tempo? Corri durante três dias seguidos, que passaram tão rápido como se apenas três horas fossem!
Poucos metros à frente do local onde me encontro, vê-se outra estrada, perpendicular a esta. É um cruzamento. Vem-me à mente a verdade de que ainda tenho muito a percorrer e muitas direcções por escolher, e sinto que, quanto mais avanço, mais longo me parece o caminho - há três dias atrás parecia só uma volta ao mundo, e agora já vejo que só chegarei ao fim com, pelo menos, mais sete.


Mas correr mata-me.


Deixo-me cair de costas; as flores amortecem-me a queda. O céu está lá em cima, mais magnífico do que nunca, e eu que nem me lembrara de o olhar! Que espectáculo que perdi... Vou ficar aqui um pouco, deitada, a deixar que o sol me aqueça; a apreciar o conforto, o aroma e a beleza dos girassóis; a ouvir os zunidos das abelhas que passam, pousam, e partem - sem as temer; a contemplar as nuvens brancas, grandes e almofadadas, em contraste com o céu liso e azul, que passam sobre mim. Quem sabe a minha imaginação não recorta em alguma delas uma forma que me faça rir...












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A arte:
-Primeira imagem: Running Through The Dark Forest, de Denise Abé
-Segunda imagem: Girassóis (desconheço a origem)
-Terceira imagem: Sunflower Clouds and Blue Sky, de Mal Bray
-Música: Nebelland, dos Neun Welten (com o melhor vídeo que poderia existir para este texto).

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